Contra o fim de uma empresa com futuro

Lutar pela <i>Platex</i> de Tomar

Luís Gomes
Os trabalhadores da IFM-Platex, em Tomar, voltaram a deslocar-se, dia 21, a Lisboa, para exigirem do Governo a salvaguarda dos postos de trabalho e a viabilidade da única produtora nacional de placas em fibra de madeira.

«Vocês estão a lutar para que os vossos filhos possam comer»

«Vamos continuar a lutar até que haja garantias de viabilização da fábrica e da manutenção dos postos de trabalho», garantiu ao Avante! o dirigente da delegação de Santarém do Sindicato da Construção, Madeiras, Mármores e Cortiças do Sul, Aquilino Coelho, diante do Palácio de São Bento, onde mais de cem trabalhadores e familiares se concentraram, na tarde de dia 21, antes de se deslocarem à residência oficial do primeiro-ministro.
Já pela manhã, a palavra de ordem mais gritada durante toda esta jornada de luta, «Queremos trabalhar na Platex de Tomar», foi ouvida diante do Governo Civil de Santarém, onde os trabalhadores exigiram a intervenção daquela entidade e apoio à sua justa luta. No entanto, a governadora civil não teve disponibilidade para os receber, mas comprometeu-se a falar-lhes na semana seguinte. Em todos os locais a que se deslocaram deixaram um dossier onde consta, integralmente, a cronologia deste processo.
Em causa está a declaração de insolvência de uma empresa que sempre teve encomendas e uma boa carteira de clientes, e que, enquanto esteve em plena laboração, exportava 60 por cento da produção, mas parou de laborar no dia 11 de Abril do ano passado. Os trabalhadores estão sem salários desde Junho, situação que, com o passar do tempo, está a provocar uma grave situação social a mais de uma centena de agregados familiares. Já diante da residência de José Sócrates veio a lume a grave situação social em que se encontram. A trabalhadora Maria Rosário Mendes usou da palavra para salientar como «quis dar de comer aos meus filhos e não tinha».
No dia 11 de Dezembro, os trabalhadores tinham-se deslocado a Lisboa, com os mesmos objectivos. Uma delegação sindical foi então recebida no Ministério da Economia. No Ministério do Trabalho não tiveram interlocutor porque, «lamentavelmente, não constávamos na agenda da ministra», recordou Aquilino Coelho. Na Economia «houve concordância quanto à possibilidade de viabilização, tendo-nos sido dadas garantias de que estavam a envidar esforços nesse sentido», lembrou, fazendo votos de que esta posição «não seja apenas um mero jogo de intenções, porque a situação não pode arrastar-se eternamente».
A empresa começou a atrasar o pagamento dos salários e declarou insolvência, num processo que os trabalhadores e as suas organizações representativas sempre consideraram mal explicado, uma vez que não encontram explicação válida para a acumulação de dívidas.

Vencer a indiferença

Segundo Aquilino Coelho, as organizações representativas dos trabalhadores solicitaram, atempadamente, audiências à Comissão Parlamentar do Trabalho e ao primeiro-ministro. Mas no Parlamento foram informados de que o presidente da comissão não tinha, sequer, informado os grupos parlamentares desta visita. Segundo a coordenadora da FEVICCOM/CGTP-IN, a comissão comprometeu-se a agendar uma audiência para data que ficou por confirmar.
Manifestando a indignação provocada pela ausência de interlocutor, Fátima Messias acentuou a importância de os trabalhadores manterem a determinação, com a força da razão que lhes assiste, recordando a recente vitória dos trabalhadores da Cimianto, em Alhandra (ver página 13), que souberam resistir e impedir o encerramento da fábrica, garantindo os postos de trabalho.
Aquela vitória sindical foi também recordada, como exemplo de que vale sempre a pena lutar, pelo coordenador da União dos Sindicatos de Lisboa, Libério Domingues, e mais tarde, diante da residência de José Sócrates, pelo membro da Comissão Executiva da CGTP-IN, Arménio Carlos.
Na residência oficial do primeiro-ministro, uma delegação sindical foi recebida pelo seu assessor, Artur Penedos, enquanto, na Assembleia da República, uma outra obteve audiência com o Grupo Parlamentar do PCP. Ao assessor, a delegação exigiu uma rápida e urgente intervenção do Governo, «já que até aqui nunca interveio no sentido de evitar o fim da Platex», recordou o dirigente da União dos Sindicatos de Santarém, Rui Aldeano.
Lembrando que o processo está numa fase crucial, Rui Aldeano reforçou a ideia de se levar a luta até ser possível salvaguardar o direito ao trabalho. «Vocês estão a lutar para os vossos filhos poderem ter de comer», salientou, terminando com um forte apelo à continuação da luta, mobilizando também a população de Tomar. «O processo de insolvência não pode representar o fim, mas o meio para se encontrar soluções que viabilizem a fábrica e salvaguardem os postos de trabalho», considerou.

Prosseguir com a luta

Para o dia seguinte a esta jornada, os representantes sindicais ficaram mandatados para voltarem a reivindicar a intervenção do Governo Civil de Santarém e da Comissão Parlamentar do Trabalho, repudiando o facto de não terem sido atendidos naquele dia, e garantindo que regressarão as vezes que for preciso, até serem recebidos. «Só com persistência, vontade e confiança na luta será possível que as nossas reivindicações sejam atendidas», explicou Fátima Messias, revelando que será traçado um plano de acções a desenvolver, também junto do administrador da insolvência.
A concentração terminou com os trabalhadores entoando a palavra de ordem «a luta continua».

Pelo trabalho e a produção

O PCP tem acompanhado esta situação a par e passo, e o seu Grupo Parlamentar, através do deputado António Filipe, levou à concentração a solidariedade dos comunistas com uma luta que é também em defesa do sector produtivo nacional. O deputado explicou como já por duas vezes o Grupo Parlamentar do PCP inquiriu o Governo sobre «que atitudes e diligências pretende tomar para que a Platex retome a laboração em condições de normalidade e continue a fabricar um produto que é de grande qualidade e que, em princípio, tem mercado garantido». Mas, até ao momento, do Governo não houve resposta. «Estaremos sempre disponíveis para tomarmos as medidas que os trabalhadores considerem necessárias para alcançarem os seus objectivos», concluiu António Filipe.


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